Modelos de gestão de inovação utilizados há 30 anos estão obsoletos e precisam ser "inovados"
O mundo mudou. A forma como trabalhamos e gerenciamos as empresas também mudou. Vivemos em uma nova era, em uma nova economia, onde os setores da sociedade tiveram de se adaptar aos novos métodos e sistemas. No entanto, o setor industrial não acompanhou estas mudanças com a mesma velocidade.
A romântica concepção que tínhamos sobre Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no passado, da qual tanto nos orgulhávamos, e lutamos durante décadas para defender do desmonte das engenharias no Brasil mudou. A imagem do guarda pó branco, bancada e microscópio - por mais fascinante que seja - está obsoleta.
Em um novo cenário econômico, redefinido após crises e turbulências no mercado internacional, tendo como motor da economia a indústria automobilística, já não existe mais. Com uma nova configuração, os setores da economia que envolvem diretamente serviços, experiência e relacionamento passaram a ganhar mais destaque. Existem novas dimensões para a inovação que tem de ser percebidas e, o mais importante, incorporadas pelas empresas no Brasil, independente de seu porte.
Podemos citar como exemplo a indústria de software. Ao olharmos para dentro dessas organizações, no setor de P&D, não vemos nenhum instrumento de medição tradicional, pipetas ou tubos de ensaio. No entanto é uma das indústrias escolhidas como estratégicas para o nosso País.
É com ela e com os serviços de telemarketing, por exemplo, que enfrentamos cara a cara a Índia, outra economia emergente. Muito mais do que atendentes e telefones, as empresas de atendimento são um segmento chave de nossa economia, que emprega, hoje, cerca de um milhão de brasileiros.
Olhando mais de perto para estes segmentos encontramos jovens engenheiros dessas "fábricas de conhecimento social" que estão nesse exato momento - enquanto você lê este artigo - desenvolvendo e aplicando sofisticados modelos matemáticos, correlações reversas, combinando em seus "laboratórios" os "elementos químicos" que extraíram de terabytes de conhecimento armazenados em bancos de dados.
Com essa inovação são capazes de antever reações, a sua inclusive (eles sabem muito mais sobre nós do que imaginamos) e assim produzir enormes saltos de produtividade e qualidade. De acordo com o mais puro conceito de inovação definido nos manuais especializados, estas pesquisas tornam possível antecipar-se à mudanças, gerenciar reações ou simplesmente responder quem, entre uma multidão de inadimplentes, pagará se enviado um segundo boleto. Verdadeiros laboratórios, tão importantes quanto os antigos, mas construindo novas ciências.
Na própria indústria tradicional a inovação também se modificou. Pense em uma fábrica de cerveja e refrigerantes. Saudosistas egressos do P&D, como eu, tenderiam a imaginar que para inovar, em uma indústria dessas, precisaria ir atrás do que existe de mais avançado em ingredientes, aromas e processos de fermentação.
De fato isto interessa, porém também se está em busca das modernas tecnologias para controle de frotas, sistemas sofisticados para monitoramento dos estoques, do fluxo dos produtos até as mãos do consumidor. O impacto disso no prazo de validade, no frescor de uma boa cerveja gelada pode ter maior força competitiva contra um produto importado ou da molécula nova de cevada especialmente pesquisada.
Uma nova concepção de produto ou serviço, na qual essas definições dão lugar ao conceito de proposição de valor que as empresas geram.
É justamente esta nova inovação tecnológica, o "combustível" estratégico para a competitividade, o desenvolvimento econômico e o emprego no Brasil. Não podemos estar de olhos fechados para ela, sob o risco de ficar restritos aos produtos e negócios da economia do passado.
Por Valter Pieracciani (Sócio-diretor da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas e autor do livro Usina de Inovações - Guia Prático para Transformação da sua Empresa e Máster in Science (MSc). www.pieracciani.com.br)
HSM Online
01/02/2010
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